segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Perdi o bonde

– Sente direito, menina!
– Não fale palavrão!
– Isso são modos?

Não, meninas. Isso não é mais o bastante para sermos boas mocinhas. Para quem não teve esse tipo de “treinamento” ou para quem, como eu, precisa lembrar algumas regrinhas, é bom correr, porque os ensinamentos da mãe ou da vovó não são mais suficientes. Ser mulher está cada dia mais difícil.

Outro dia, vendo uma propaganda, em que a Débora Secco dá dicas de sedução, eu aprendi: “Peça para uma amiga contar quantas palavras você fala em um minuto. O ideal é ficar perto de 160. Muito abaixo, aumente o ritmo. Muito acima, tente desacelerar“. É sério? Alguém se habilita a contar quantas palavras eu falo em 60 segundos?

As lições para atingir a suposta perfeição, que vão fazer de você uma mulher bem sucedida, com um bom marido, filhos lindos, um corpão de dar inveja, pele de seda, cartão de crédito liberado, apelido de fruta e tempo pra ir ao shopping e ao cabeleireiro, estendem-se por vários capítulos: “Como parecer 10 anos mais jovem”, “Vista-se para seduzir”, “Como ser santa na rua e puta na cama”.

Posso confessar? Eu tenho medo. Eu tenho muito medo. Perdi o bonde da mulherzinha. Os tratamentos de beleza estão há anos-luz do meu conhecimento. Tenho preguiça de fazer a unha, porque ela sempre estraga quando vou dar banho no meu cachorro. E isso eu faço toda semana. Eu não gosto de bolsa. Tenho uma única e ela serve para todas as ocasiões. Acho horrorosas as Louis Vuitton, parecem coisa das minhas tias-avós. Meus sapatos se restringem a sete pares, contando duas rasteirinhas. Compro meu shampoo no supermercado. Faço minha depilação em casa com um creminho que não dói nada. Não passo maquiagem para trabalhar, nem batom. Isso permite que eu acorde mais tarde. Estimulação russa me parece algum tipo de tortura soviética. E que diabos é nude?

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Do que você tem medo?

Do que você tem medo? Eu tenho medo da morte e esta é uma questão que me atormenta. Não a morte sobranceira, que nos espia diariamente. Eu tenho fé que vou morrer velhinha e estou decidida a conhecer meus netos.

Ao contrário da canção do Gilberto Gil, eu não tenho medo de morrer, entende? Eu tenho medo da morte, que é o que vem depois. Como ele diz “morrer ainda é aqui, na vida, no sol, no ar”. Então, mesmo que haja dor, ainda é vida. Eu tenho medo do que vem depois. Melhor dizendo, medo do que pode não vir. Porque se vier alguma coisa, qualquer coisa, pra mim já é lucro.

Pensando nas possibilidades, reencarnar não é bacana, porque a partir do momento que eu reencarno eu já não sou mais Juliana. Mesmo que seja pra me tornar uma pessoa melhor. Melhor do que quem? Gandhi? Oprah? Não, obrigada. Virar luz também não quero. Nem anjo, nem santo, nem pó.

Não penso na morte todo o tempo. Penso mais na vida, claro. Mas, meu Deus, vai tudo isso aqui pra debaixo da terra? Meus cinquenta e dois quilos, meu dedo mindinho, meu joelho com cicatriz de queda de bicicleta? Minha mente cheia de perversões. O pior mesmo, é que todo o resto continua. A roda de samba, a cervejinha gelada, o pão de queijo. Políticos corruptos. Assassinos. Pedófilos. Eles vão continuar tomando café com pão de queijo. E eu, que nunca matei ninguém... A vida é injusta.

E meus badulaques? Minha mãe não ia querer guardar aquele monte de coisas. E minhas plantinhas? Será que minha mãe cuidaria delas? Meus livros irão para um sebo? Meu pai guardaria, porque ele ama livros. Mas talvez não, por causa da culpa. Olharia os livros e lembraria. Hahaha... Na morte todo mundo vira santo.

E meus filhos, guardariam? Duvido. Filhos são sempre ingratos. Venderiam tudo por uma mixaria. Ficariam só com os CD’s. Se bem que até lá nem vão existir mais CDs.

E meu marido, guardaria meus livros? Mas e se ele casar de novo? Claro que vai casar, homem não fica sozinho, ainda mais depois de velho. A mulher que ele escolher vai guardar meus livros, velhos e novos? Talvez ela guarde, e diga: “ela tinha tanto bom gosto...” Talvez ela o convença a se livrar de tudo. Ciúmes de uma morta?! “Ocupa muito espaço, benzinho...” Ah ta! Será que eu consigo puxar o pé deles à noite?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Felicidade e regras não-aplicáveis



Há pouco tempo, o marido de uma amiga me disse que o segredo da felicidade consiste em não criar regras não-executáveis para nossas vidas. Regras do tipo que não sejam possíveis, ou que sejam quase impossíveis de se cumprir.

Exemplifico: proibir seus filhos adolescentes de ver televisão ou acessar a internet durante a tarde, e determinar que eles estudem neste período. Pode-se até criar punições para quem descumprir a norma.

O plano parece bom, entretanto eles ficam sozinhos em casa até você chegar à noite. Resumo da ópera, esta regra tem chance mínima de ser aplicada, já que não pode ser fiscalizada. E seria injustiça aplicar punições sem provas ou evidências.

Segundo o marido da minha amiga, assim acontece com quase tudo na vida. E apesar da obviedade do desperdício de energia em ter uma regra não-executável na nossa vida, passamos boa parte do tempo criando determinações do tipo para nós mesmos e pessoas a nosso redor.

Ao mesmo tempo em que eu escrevo esse texto, eu avalio quais são as regras falidas que institui para mim e para os outros. Acho que não são poucas a contar da minha insatisfação em alguns campos da minha vida.

Essas determinações ineficientes dificultam a nossa vida e nos dão a impressão de que falhamos ao não cumprir determinada regra, quando o erro na verdade foi estabelecer uma regra que não vai funcionar na prática. Mas o mundo está cheio de determinações do tipo não-aplicável.

Só para citar algumas: uma lei do Estado de Michigan proíbe amarrar jacarés aos hidrantes. Lá também existe uma regra segundo a qual casais casados que não vivam sob o mesmo teto devem ser presos. Claro que nem precisa dizer que essas leis não são aplicadas, certo?!

Pois é. Não sei se não criar esse tipo de regra é realmente o caminho da felicidade, mas ajuda bastante não colocar obstáculos no trajeto da nossa corrida olímpica day-by-day.