sexta-feira, 23 de julho de 2010

Puro devaneio

Eu não sou de grandes planos e idealizações porque sempre tive os pés no chão quanto a grandes expectativas. Por causa disso, sou de planos possíveis e de curto prazo. Isso não quer dizer que não tenha grandes sonhos. Não desejos veementes ou aspirações, mas devaneios, quimera. Um deles é escrever um grande romance.

Já sei a dedicatória e como eu começaria a escrever o livro. Um romance mineiro. Tenho a história e os personagens. Eu teria que ser muito boa para contá-la com a força que ela tem, uma historinha tão simples.

Eu poderia até adiantar a história aqui. Posso? Vou contá-la, ainda que sem o tratamento que ela teria no meu fantástico romance sonhado. Seria um pedacinho apenas. Tudo isto eu botaria no livro, com muita literatura, podem acreditar. Deixa ver se a conto em algumas linhas...

É na adolescência, de alma descuidada e coração vadio, que eles se conhecem. Tudo é um vir-a-ser. Vida, profissão, amor, família, tudo é futuro. Cotidianamente, ele a segue com olhos atentos, até que ela chegue ao portão de casa. Ela, tímida, até gosta, mas se faz de desentendida.

A possibilidade de ele vir falar com ela, a faz estremecer desde a ponta dos seus pés. São tantas as tentativas que, um dia, ela se permite encontrar os olhos dele. Isso é o suficiente. Um sussurro percorre seu corpo inteiro. É uma inauguração em seu corpo, em seus sentidos, em sua alma.

Um dia, meias frases, meio diálogos, sem pontos finais. Acontecimentos pelo meio e eles ficam pelo meio. E, não é que vivem no passado, é o passado que está neles. Desde então, porém, a pergunta a persegue: como se lida com o reverso do amor?

Ela espera que ele diga “largue tudo e venha comigo”. Ele não diz e assim ela segue a estrada mais difícil, menos usada e isso faz toda a diferença. Ele passa, às vezes, pelo mesmo portão e talvez se lembre dela. A estrada que não tomaram continua ali. O passado molda o dia de hoje, mas não o determina inteiramente, não o impede e, sobretudo, não o substitui.

O tempo passa e como o amor desdenha das situações preparadas para o amor, mas não despreza o acaso, há sim um último encontro, para provar que, assim como, aos 30 anos não se pode recuperar uma paixão da adolescência, Tom e Chico estavam certos, quando falaram do quanto é “desconcertante rever o grande amor”.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Gostaria de dizer...

Gostaria de dizer que ando por aí despreocupada, que deixo a bolsa na cadeira ou em cima do balcão. Gostaria de dizer que os pobres herdarão o reino dos céus e que os juros vão cair. Gostaria de dizer que príncipes encantados existem, que chocolate não engorda e que a dívida externa foi perdoada.

Gostaria de dizer que não estou arrependida do voto que dei na última eleição, aliás, dizer que nunca me arrependi, que sempre votei certo. Gostaria de dizer que a unha não vai quebrar, o ônibus não vai atrasar e a meia calça não vai rasgar.

Gostaria de dizer que Deus ajuda quem cedo madruga. Gostaria de dizer que ética tem valido mais que estética e que reina em nosso país juízes justos e políticos íntegros. Por fim, gostaria de dizer que o compadrio não leva vantagem sobre o mais competente e que o jogo de influências não derrota o aplicado.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

10 anos

Izabella,
que a fé more sempre em seu coração,
a justiça guie o seu espírito,
a bondade seja sempre o perfume de sua alma
e o perdão seja sempre a flor mais bela de seus pensamentos.
Magda
*Escrito no meu diário de Hello Kitty, em 10/12/1991, numa página qualquer para que fosse achado a qualquer momento.


Eu não conheci minha avó. Ela se foi antes mesmo de se tornar uma. Foi precocemente no inverno de 1968.

Minha mãe também partiu em um inverno, no dia de 10 de julho de 2000, carregando o mesmo legado de sua mãe. Mas antes mesmo de ser avó, faltou-lhe o tempo de continuar a ser mãe. Minha mãe.

Quando pequena, eu era como qualquer criança: dependente de todo o cuidado materno. Aos poucos, dando os primeiros passos, as primeiras quedas fui ganhando independência e, ao mesmo tempo, personalidade. Mas ela estava lá, assistindo todo o meu caminho.

Na adolescência, como todo "quase adulto", achei que esse negócio de ser mãe era chatice pura e por diversas vezes entortei o nariz para seus conselhos. Mas ela estava lá, insistindo em seus avisos e me esperando de braços abertos para caminharmos juntas.

E foi exatamente no intervalo entre a adolescência e a vida adulta que ela se foi. Eu tinha 18 anos. Exatamente na época em que se descobre que a adolescência não é eterna e que começam a surgir os desafios da vida. Foi exatamente aí que eu procurei a sua mão, o seu olhar dizendo "coragem" e não os encontrei.

Eu me lembro de uma mãe de postura firme, que me ensinava a seguir em frente, a lutar e ter fé. Eu me lembo de uma mãe zelosa e amável que me ensinou princípios e virtudes para levar comigo. Mas naquele dia, nenhuma lembrança se fez maior que o tamanho de sua ausência.

Ausência que tem cheiro, que tem voz. Ausência que caminha ao meu lado há 10 anos. Às vezes em ritmo acelerado, forçando-me a tomar fôlego ou a parar um pouco, exaurida de saudade.

Engana-se quem pensa que o tempo faz esquecer as pessoas. Ao contrário, o tempo tratou de guardar minha mãe em mim. Ela nasce em mim todos os dias e eu sou ela sempre. E sempre busco um pouco dela nas pessoas e nas coisas que me cercam e dou um pouco dela para as coisas e as pessoas que me cercam.

E assim, sob olhar eterno, minha mãe continua a assistir meu caminho e a caminhar comigo.

Eu não carrego o legado de não ser avó. Isso foi um mero acaso. Não estou fadada a este destino. O meu legado é continuar a viver esse amor. É procriar esse sentimento e mostrar para todos e para mim mesma que, mesmo desfrutando tão pouco da dádiva de ser mãe, ela foi a melhor do mundo.