sábado, 16 de abril de 2011

Meu epitáfio (só por garantia)

Nunca tive medo da morte. Também não faço a menor ideia do quê e de quem me aguarda do outro lado de lá. Será que poderei falar no dia do juízo? Por via das dúvidas, caso não seja permitida a palavra para qualquer justificativa ou defesa; argumentação ou agradecimento, fica aqui a escrita do meu epitáfio (só por garantia). Para os que ficam e para os que já me aguardam, deixo a seguinte mensagem: Sim. Pode não paracer mas achei a vida gozada, hilariante e bonita de se viver, apesar das rasteiras que ela me deu. Eu tive humor e muitas e muitas vezes sorri para ela. Não. Não é preciso falar "eu perdoou você" para perdoar alguém. Eu consegui essa proeza aprendendo a conviver, amadurecendo. Perdoar não é falar em perdão. Perdoar é conviver com o perdão e com a culpa e com o erro e com quem julga e é julgado. Eu tive a melhor família do mundo. Tive irmãos maravilhosos, amigos e acolhedores, que deram um duro danado para me compreender. Eu tive um pai zeloso, incentivador e companheiro e tive uma mãe sublime e apaixonante que desejo encontrar quando estiver no Paraíso. Não tive filhos (pelo menos até o momento das elucubrações deste texto fúnebre). Mas a voz estridente misturada a um olhar sapeca e um sorriso contagiante me chamando de "Dindin Béeeeeeeeu" soou com a mesma delicadeza e olhar terno de um filho dizendo calmamente "mamãe". Eu deixo grandes amigos. Confesso aqui não ter sido a melhor de todos, mas tentei ser pelo menos a grande amiga para umas cinco pessoas. Ou talvez até para mais. Verei daqui do alto quantos sentirão saudades de mim. Por fim, não faltou dizer a quem deveria escutar o quanto eu o amei. Faltou, sim, viver este amor. Mas não pedi nada em troca. Não tive esse direito. O amor não se cobra. Achei apenas que o tempo fosse encaixar nossas vidas, mas a morte me levou mais cedo. Então, fica para próxima. Ao menos, está dito e de mim, verdadeiramente, sentido. Agradeço pelas lindas coroas, pelas preces e mensagens de carinho. Agora, só gostaria de fazer um último pedido: coloque minha matéria para descansar debaixo daquele flamboyant frondoso para que nem o que sobrar de mim pegue esse sol escaldante. Por favor, coveiro, pode fechar o caixão.