quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Feliz Aniversário, Stephanie

Foi minha mãe quem deu a notícia que a casa ao lado teria novos moradores. Foi minha mãe também quem me disse que naquela casa uma menina da minha idade iria morar. Eu fiquei radiante com a ideia de ter uma nova amiga para brincar. As garotas da rua eram sempre mais velhas e entre a turma toda de meninos e meninas eu era a “copo de leite”.

Antes da sua chegada ficava o tempo todo imaginando como seria essa nova amiga. Será que ela é legal? Será que ela vai me emprestar seus brinquedos? Ela é loira ou morena? Bonita ou feia? Eu também desenhava a sua família em minha cabeça, planejava as brincadeiras, os aniversários de boneca e os passeios de bicicleta.

E ela apareceu. Não me lembro exatamente quando, mas ela apareceu. Loira. Loirinha, de bermuda cor de rosa, camiseta cor de rosa e pés descalços. No cabelo, uma maria-chiquinha que sempre escorregava, deixando o rabo-de-cavalo desajeitado. Jamais imaginaria que minha futura amiga tinha aquela imagem. E ela passou a ser o xodó da turma. Ela e seu irmão de cinco anos assumiram o posto de novos “copos de leite”. E eu me transformei em “copo de leite sênior” (uma promoção dada pelo líder da turma, meu irmão – que não era o mais velho do bando, mas sempre se destacava no grupo da rua).

Casas geminadas, jardins na entrada, mobília de mogno no quarto. Ela tinha um gato enorme de porcelana. Eu, um gato boêmio que encontrei na garagem da minha casa. Ela tinha uma coleção de disquinhos e historinhas que me encantavam. Minha barbie era loira. A dela era uma ruiva dos anos 70, de pantalona e tamanco, que mexia os ombros quando se apertava as costas. Ela tinha uma infinidade de móveis da barbie. Eu tinha alguns poucos, mas quando a gente juntava os brinquedos era uma tarde inteira de diversão.

Ela tinha a Moranguinho. Eu, a Uvinha. E nós duas tínhamos a Tetê. Uma boneca que tomava mamadeira e fazia xixi para a fralda ser trocada. Ela tinha uma máquina de escrever Olivetti amarela que eu era fascinada. Eu tinha uma bicicleta cor de rosa que ela andou antes de mim.

Ela tinha o Quadro Mágico e eu o Jogo da Vida. Nos pés descalços, a sujeira das aventuras nos terrenos baldios. E na minha testa, um galo e uma cicatriz por aquela aposta de corrida que estava vencendo e fui derrubada.

O primeiro cigarro foi experimentado juntamente com ela. E o primeiro porre... Deve ter sido com ela também (Eu não me lembro).

Na adolescência, os segredos. Os planos para ficar com aquele garoto que tinha um primo mais velho que dirigia. Nessa mesma adolescência, a separação. A distância de um muro baixo, que passou a ser de quatro casas deu lugar a uma distância de 450km e a convivência diária passou a ser curtida apenas nos feriados prolongados e nas férias. É que eu fui morar em Belo Horizonte e ela quis ficar no interior.

Mas não vou houve distância que nos separasse. Nem mesmo nos grandes acontecimentos. Quando eu perdi a minha mãe, ela estava lá, esperando por mim em minha casa. Ela e um abraço silencioso. Porque não cabia naquele momento nenhuma palavra, somente um abraço silencioso. E quando a tristeza era minha companhia, ela deitava na minha cama e só saía de lá quando eu melhorava.

Eu também estava lá em alguns momentos especiais. E isso está registrado! Fui madrinha de seu enlace e passei na fila dos cumprimentos pelos menos três vezes. É que a alegria era tão grande que a gente precisava se abraçar em silêncio a todo instante.

E foi debaixo do pé de jabuticaba lá de casa que fui uma das primeiras a saber que dali a nove meses chegaria para nossas vidas um lindo presente. Enzo! Que é seu filho e também um filho de coração para mim.

Então, naquele dia em que ela se mudou para minha rua, eu não ansiei a sua chegada à toa. Talvez eu já soubesse que ali chegava a minha melhor amiga. O tempo moldou essa amizade. As brigas e birras eram superadas assim que a próxima brincadeira começava. A saudade, constante companheira, temperou os momentos de reencontro com risadas e lembranças. É assim uma amizade sincera.

Naquele dia em que aquela loirinha de roupa cor-de-rosa, maria-chiquinha no cabelo e pés descalços foi morar na minha rua, eu ganhei a melhor amiga do mundo e a melhor irmã do mundo também.


2 comentários:

  1. Que linda declaração, Iza! Parabéns Tê!

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  2. Que coisa mais linda, Iza! Palavras tão bonitas...a vida às vezes nos presenteia com irmãs de alma, eu tb tenho a minha! Parabéns pra sua amiga!Bjs

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