segunda-feira, 26 de abril de 2010

Sem a tua companhia

“A minha alma chorou tanto
que de pranto esta vazia
Desde o dia em que fiquei
sem a tua companhia”

Na sua companhia, ela já viveu as mais diversas situações: em algumas, foram momentos de intensa alegria, nos quais, como crianças, se julgaram eternos, e outras, de grande aflição, quando quase chegaram a pensar, devido a tanta dor e sofrimento, que nada mais valia a pena.
Mas que ele, sempre forte, conseguiu dominar e dar a volta por cima, pois sabe que a vida, independente das peças que possa nos pegar, foi feita para ser vivida. Entregar o ouro para o bandido, jamais, e ele – tão especial que é – sabe que esta é uma verdade maior. Não é à toa que os seus olhos, castanho-claros, e belos, sempre miram adiante, muito adiante, mesmo que nuvens escuras, vez ou outra, possam surgir no horizonte.
Ela procura nas pessoas com as quais convive, nas que cruzam o seu caminho e perguntam por ele, mas nada preenche o vazio. Na imaginação, no corpo e na mente, o rosto dela olha pra ele e lhe faz companhia. É a presença que se sente, mas não se pode tocar e é compensada, substituída, completada, pela certeza de que ele vai voltar.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

‘Tanta criança passando fome e...’



Já ouvi esta frase dezenas ou centenas de vezes, de gente incomodada com protestos pró-libertação animal, e até mesmo os conhecidos que atuam na proteção animal já me relataram ter ouvido esse mantra boca-suja à exaustão. Qualquer movimento, ação ou preocupação com os animais, gera em determinadas pessoas a pergunta ‘mas com tanta criança passando fome, vocês aí ________?’.

Eu ouço uma pergunta diferente nesses casos; da boca da pessoa sai a frase acima, porém a tradução é ‘mas com tanta criança passando fome, vocês aí que fazem coisas, que gastam dinheiro do próprio bolso, que sacrificam horas e dias de repouso, que esquentam a cabeça e se preocupam em resolver aquilo que nós, maioria, apenas passamos os olhos com indiferença, destinaram todo esse esforço voluntário justamente pros animais?’. Quem sempre tem uma opinião na ponta da língua, não é a mesma que faz doações regulares a entidades beneficentes, que vai uma vez por semana fazer leitura para cegos, que vai conversar com um morador de rua para tentar dar uma ajuda, que sacrifica um dia besta na frente da televisão para se voluntariar como instrutor em oficinas profissionalizantes, ou arrecadar um computador seminovo entre conhecidos e enviar a algum lugar que necessite.

São pessoas diferentes, embora alguns esperneiem para dizer que, sim, eles são os bons samaritanos de primeira hora, de raiz, e cospem em quem levanta dúvida sobre sua incapacidade de levantar a bunda da poltrona para alterar, em 0,00001%, a realidade lá fora. A realidade que passa de relance nos noticiários.

Acredito sinceramente que as crianças que passam fome infelizmente estão à mercê da grande maioria das pessoas, cuja indignação e empatia duram somente o tempo dos intervalos comerciais, ou o tempo de leitura de algum e-mail apelativo recebido de conhecidos. Porque parece que nós, ativistas pró-animais, e protetores e defensores, estamos somente enxugando gelo, enquanto o céu desaba lá fora – realidade detectada somente pelos que tudo criticam, mas pouco fazem.

Nós, ‘trololós das ideias’, estamos perdendo nosso tempo – e o tempo deles – com conversas e atividades envolvendo cachorros, vacas, porcos e até animais que nunca veremos, como focas no Canadá, golfinhos no Japão, animais fofos na China e ratos brancos em laboratórios.

Eles, não.

Eles enchem a boca para criticar as protetoras dondocas, que nada têm a fazer, então correm atrás de cachorros pelas ruas, que saem alimentando gatos, que brigam com carroceiros malvados etc. Eles, com orgulho, apontam todas as falhas de razão que os veganos têm, suas preocupações e soluções bobas, já que não há mal nenhum em um bom bife, necessário à saúde e que, convenhamos, não tem nada a ver com imagens sangrentas e agressivas que povoam o Orkut e sites de gente que usa camiseta preta.

Mas as crianças continuam a passar fome, a despeito dessa maioria que, transbordando um bom-senso que eu não terei em vida, pesa melhor os problemas que aí estão. Tal como as promessas de muitos candidatos a cargos políticos, basta abraçar os problemas na hora da fotografia, e o remorso passa em instantes.

A indiferença resume a ética dessa brava gente brasileira.

A indignação só vale para a conversa rasteira com o motorista do táxi, xingando o governo e ‘a ladroagem’, mas o ritmo de vida não muda, o que só depende da própria pessoa. Foi-se o tempo em que era necessário encaixar-se nos moldes, nas oportunidades fornecidas por terceiros, nas vagas a autômatos. Quem quiser arregaçar as mangas, terá um mundo inteiro, lá fora, aguardando e precisando de sua boa vontade e culhão. Não é fácil, pois se escolher a problemática A, o pessoal dos camarotes vai comentar que o certo seria atacar a problemática B, e assim por diante.

Mas essa maioria ainda não se deu conta de que o voyeur não faz nem participa, contenta-se em olhar para o que os outros estão fazendo, com prazer. Como o ativismo pró-libertação animal, gostem ou não.

Vanguarda Abolicionista - Marcio de Almeida Bueno
Publicado em http://www.anda.jor.br

domingo, 4 de abril de 2010

Ora, pois!

Portugal sempre foi um bom motivo para me debruçar em livros de história. Assim como qualquer outro país ou qualquer livro de história. Mas, realmente, nunca pensei que um dia fosse conhecer as terras lusitanas.

Foi meio que de repente. Planejava um descanso no final do ano em Salvador quando, em novembro, meu irmão me liga dizendo: vamos para Portugal? "Ai, Jesus!", pensei. Mas, em seguida disse que topava o convite.

Troquei o sol escaldante das praias nordestinas pelo restinho de frio gostoso e charmoso que fazia na Europa no início da primavera de lá. E de lá pra cá, fechei a torneira com os gastos bobos. Afinal, era uma viagem para Portugal.

Muitos podem dizer: Portugal é a porta de entrada para a Europa. Pois. Que digam! Dizem isso por puro despeito, acredito. Tá certo que cada país tem suas belezas e seus problemas. Mas problema na Europa tem lá seu charme.
Portugal é fascinante. Todo brasileiro deveria conhecer este país. Foram 12 dias de encantamento. Cada cidade uma história. Cada história um descobrimento.
Até a maria-sem-vergonha, aquele matinho chato, possui uma cor linda e enfeita as estradas e plantações!

Eu começo em Lisboa. Mais precisamente na Pça Marquês de Pombal, Hotel Avis. O hotel que hospedou nomes como Sinatra, Maria Callas, Ava Gadner é simplesmente um luxo. Minha cama cabia umas 13 pessoas, sem exagero. No café da manhã, pães, pastéis de nata, frutas, chás variados, café bem forte e champagne. Isso mesmo, champagne. Mas não tomei. Achei muito esnobe.

O primeiro dia de passeio começou logo na chegada. De metrô, fomos até o bairro Oriente. Uma região moderna às margens do rio Tejo. Visitamos um aquário que contém espécies de todos os oceanos. Perfeito!

No dia seguinte, Belém. Pegamos um ônibus de turismo e fomos visitar a famosa Torre de Belém, o Monumento das Grandes Navegações e o Mosteiro de São Jerônimo. Simplesmente encantador.

No segundo dia, alugamos um carro que só largamos no último dia e partimos para o litoral. As estradas são perfeitas. Pistas triplas, conservadas e as plantações de parreira eram nossa companhia durante toda a paisagem.
Cascais. Cidade cosmopolita e charmosa. Que faz um calorzinho convidativo para um passeio na orla. Mas nem ouse colocar os pés na água. Gelado. Ainda.
Foi nessa cidade que comemos o melhor prato da viagem. O restaurante se chama Casa Velha e o prato é um carril (um peixe que nunca ouvi falar) com legumes. Para acompanhar, um belíssimo vinho verde.

Come-se muito bem em Portugal. É uma comida saudável. Eu, por exemplo, coloquei meu ômega 3 em dia com tanto peixe saboroso, frutos do mar e camarões. Para limpar as artérias, vinho. Foram 12 garrafas liquidadas por três pessoas (eu, Eduardo e minha cunhada Maria Elisa). É claro que a gente acaba sentindo falta de um arroz ou de um feijão. Mas o sangue fidalgo que tenho certeza que corre nas minhas veias nem parou para pensar nisso.
Voltemos ao passeio.

De Cascais fomos para Sintra. Uma cidade no alto de uma montanha que tem como atração turística o Parque da Pena. Nesse lugar, castelos dos mouros, um parque com matas lindas e o Palácio da Pena, a última residência do Rei de Portugal. Ao chegar em Sintra, um nevoeiro tomou conta da paisagem e a temperatura caiu bastante. Bom, né? A paisagem ficou bucólica e ao mesmo tempo misteriosa.

No dia seguinte, debaixo de chuva, fomos para Ourém. A cidade mais conhecida como Fátima. O santuário é enorme e não tem quem não se emocione naquele lugar. Em todas as cidades vi pombos cinzas. Em Fátima, os pombos são brancos. Vai entender.
Preces e orações feitas seguimos para Batalha.

Batalha é a cidade onde estão enterrados os reis da dinastia Avis. Essa dinastia foi muito importante para o mundo, pois foi nela que deram início as Grandes Navegações. O Mosteiro de Santa Maria da Vitória é um caso a parte. Cada coluna do pátio do mosteiro tem um desenho diferente. E possui uma parte chamada Capelas Imperfeitas que de imperfeito não tem nada. Na verdade, elas não foram terminadas. O rei da época e o arquiteto que fez o mosteiro morreram no mesmo ano e o teto da capela ficou inacabado, sem cobertura.

O quarto dia foi um passeio a cidade de Óbidos. Um castelo feudal belíssimo. Na história, Portugal foi o último Estado da Europa a se transformar em reino, acabando com o famoso sistema feudal da Idade Média. Aquele sistema que só possuía 3 castas: senhor feudal, clero e servos. Óbidos é bastante preservada. Pelos muros da cidade, você faz um belo passeio e ganha imagens lindas. Hoje, no castelo do feudo funciona uma pousada.

Ao cair a tarde, seguimos para Lisboa, atravessamos a ponte Vasco da Gama (lá, tudo é Vasco da Gama. Cabral é um mero subcoadjuvante) que tem 16km de extensão e fomos para a cidade de Alcochete para deliciarmos em um shopping outlet. Grandes marcas por preços mínimos. Mas haja paciência para garimpar a melhor roupa e o melhor calçado por preços baixos.

No dia seguinte, bem cedo, seguimos para a cidade de Porto, segunda maior cidade de Portugal, mais ao norte do país.
Porto é mais preservada que Lisboa porque não sofreu terremotos que destruíram a capital. A cidade é banhada pelo rio Douro. Aquele que carrega fama de rio dos vinhos. E faz jus à fama que tem.

Para mim, a vista mais bonita da viagem foi o passeio que fizemos em Gaia, cidade que fica do outro lado da margem do Douro. Gaia tem a vista mais linda do mundo: as construções de Porto. Eu não queria piscar os olhos naquele momento para não perder um lance das imagens e gravá-las lá no hipocampo, pra sempre.

Nos dias seguintes, pegamos estrada no sentido Norte e fomos para Guimarães – lugar onde Portugal nasceu e de onde vem a família real brasileira (a dinastia de Bragança). Guimarães é chique, as pessoas são chiques, as construções são chiques, a lixeira da rua é chique.
Não podíamos visitar esta cidade apenas uma vez. Então, dois dias depois, já em nossos últimos suspiros europeus, retornamos à cidade para um delicioso passeio de teleférico.

Entre os dias de Guimarães e a volta a Guimarães, passamos por Viana do Castelo. Viana recebe mais influência espanhola. Estávamos a mais ou menos 60km de Valença.
Viana do Castelo é um balneário. No verão a cidade recebe turistas de vários países da Europa e como eu já me incluo nessa União Européia estou até pensando em largar um pouco as praias do Sul da Bahia para veranear em Viana do Castelo.

De Viana do Castelo para Porto. De Porto para Lisboa. De Lisboa para Belo Horizonte.
De volta à realidade na Terra Brasilis, sou recebida por um bafo de calor em pleno outono belorizontino. Chego em casa e me deparo com uma humilde cama de solteiro e na geladeira, meio vidro de água. Mas aí a gente faz o jogo do contente da queridíssima Poliana: o barato dessa história é saber que Portugal, assim como qualquer outro destino, estará sempre à sua espera. Basta parcelar a passagem em várias prestações, cortar os gastos em botecos no fim de semana e fazer as malas.

Nota 10 para:
_As rádios locais que tinham uma programação perfeita;
_O vinho Quinta da Soalheira. O melhor de toda a viagem;
_O almoço de Cascais e a sobremesa também;
_Os pastéis de nata de qualquer lugar de Portugal;
_As lindas estradas (o pouco que vi porque caía no sono antes do carro sair da garagem);
_Os hotéis: Avis (Lisboa) e Eurostar (Porto);
_As liquidações;
_Guimarães;
_Para meus companheiros de viagem Duda e Isa (presente perfeito!)