quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Do que você tem medo?

Do que você tem medo? Eu tenho medo da morte e esta é uma questão que me atormenta. Não a morte sobranceira, que nos espia diariamente. Eu tenho fé que vou morrer velhinha e estou decidida a conhecer meus netos.

Ao contrário da canção do Gilberto Gil, eu não tenho medo de morrer, entende? Eu tenho medo da morte, que é o que vem depois. Como ele diz “morrer ainda é aqui, na vida, no sol, no ar”. Então, mesmo que haja dor, ainda é vida. Eu tenho medo do que vem depois. Melhor dizendo, medo do que pode não vir. Porque se vier alguma coisa, qualquer coisa, pra mim já é lucro.

Pensando nas possibilidades, reencarnar não é bacana, porque a partir do momento que eu reencarno eu já não sou mais Juliana. Mesmo que seja pra me tornar uma pessoa melhor. Melhor do que quem? Gandhi? Oprah? Não, obrigada. Virar luz também não quero. Nem anjo, nem santo, nem pó.

Não penso na morte todo o tempo. Penso mais na vida, claro. Mas, meu Deus, vai tudo isso aqui pra debaixo da terra? Meus cinquenta e dois quilos, meu dedo mindinho, meu joelho com cicatriz de queda de bicicleta? Minha mente cheia de perversões. O pior mesmo, é que todo o resto continua. A roda de samba, a cervejinha gelada, o pão de queijo. Políticos corruptos. Assassinos. Pedófilos. Eles vão continuar tomando café com pão de queijo. E eu, que nunca matei ninguém... A vida é injusta.

E meus badulaques? Minha mãe não ia querer guardar aquele monte de coisas. E minhas plantinhas? Será que minha mãe cuidaria delas? Meus livros irão para um sebo? Meu pai guardaria, porque ele ama livros. Mas talvez não, por causa da culpa. Olharia os livros e lembraria. Hahaha... Na morte todo mundo vira santo.

E meus filhos, guardariam? Duvido. Filhos são sempre ingratos. Venderiam tudo por uma mixaria. Ficariam só com os CD’s. Se bem que até lá nem vão existir mais CDs.

E meu marido, guardaria meus livros? Mas e se ele casar de novo? Claro que vai casar, homem não fica sozinho, ainda mais depois de velho. A mulher que ele escolher vai guardar meus livros, velhos e novos? Talvez ela guarde, e diga: “ela tinha tanto bom gosto...” Talvez ela o convença a se livrar de tudo. Ciúmes de uma morta?! “Ocupa muito espaço, benzinho...” Ah ta! Será que eu consigo puxar o pé deles à noite?

2 comentários:

  1. Pois é Ju...tb tenho medo da morte, pavor de pensar em ser enterrada, claustrofobia...quero ser cremada!
    E ontem fez 7 anos que minha mãe se foi, e isso acho o cúmulo da injustiça, tanto pedófilo, ladrões, safados, vivinhos por aí, e minha mãezinha que era tudo de bom partiu prematuramente... enfim, deve haver uma explicação Maior pra isso né! Fico aqui com a saudade e sem querer ser enterrada!
    Bjos, Karine.

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  2. Oi, Julieta! Profundo isso, não? Também tenho esse medo, do que vou encontrar do outro lado, e se for uma escuridão sem fim?? E se eu não encontrar minha mãe como tanto sonho? Pior...e se eu não ficar viva na memória de ninguém???Sei lá o que nos aguarda...a vida é difícil, mas quero ter um caminho beeeeemmmm longooooo!rsrs.

    Karine, esses aniversários(???) de morte são uma porcaria, só servem para abrir a ferida que fingimos fechar durante o resto do ano...resto da vida...bjs, xuxu.

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