terça-feira, 30 de março de 2010

Eu, eu mesma e meu silêncio



Na semana passada, dei de presente para o maridón a camiseta aí da foto. Muito mais porque achei divertida, do que para confessar a minha conflituosa relação com o silêncio. Eu nunca achei que ser mulher fosse vantagem ou desvantagem, mas me interesso e acho até divertido o tema diferenças de gênero. E a nossa relação com o silêncio com certeza é um ponto.

Em geral somos mais rumorosas. Fomos premiadas com um cérebro labiríntico. Falamos em entrelinhas, achamos duplos sentidos para tudo. E, ao que parece, nos acostumamos com esse diálogo contínuo. Já contei aqui que na falta de uma boa companhia, eu converso sozinha sem nenhum pudor. Para nós, ou a maioria das mulheres, o silêncio é visto com negativa, como falta de assunto, como certo mal-estar. Perguntar aos homens porque estão em silêncio, ou tão quietos, ou se tem algum problema, é uma estratégia de dominação ensaiada por nós há milênios, sem qualquer sucesso.

A verdade é que mulher é mais chegada a uma conversa de bar do que os homens. Mas quando a gente se reúne em torno de uma cervejinha, os assuntos são bem diferentes. A gente não discute por que o Cruzeiro perdeu um campeonato ganho, nem a incrível comissão de frente daquela garota da outra mesa. A gente discute, entre outras coisas, “por que a gente é assim”. Afinal de contas, não são só os homens que não nos entendem. A gente também não!

O fato é que essa camiseta talvez tenha me levado a fazer algumas reflexões e a repensar minha relação com essa ausência da fala. Acho que vou ligar pra alguma amiga.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Sobre espiritualidade

Já faz algum tempo que tenho me preocupado mais com a minha espiritualidade, sei lá, sinto falta de algo que me faça entender melhor as inquietudes sem fim que rondam minha alma. Hoje, chegando ao trabalho, uma colega me perguntou: “você é religiosa?”, respondi o de sempre: “acredito em Deus e me identifico bastante com o Espiritismo...”- ela queria que eu direcionasse orações à esposa de um colega nosso, que acabou de dar à luz uma menininha linda e encontra-se no CTI, por conta de problemas respiratórios – Eu respondi que “ia direcionar minhas energias positivas, sim!”. Essa conversa me fez voltar a pensar em resolver minha espiritualidade...certamente tenho muita afinidade com a doutrina espírita e acredito não ter mais por falta de me aprofundar e frequentar as reuniões. Sei que minha avó materna era espírita, devido a isso tenho lá em casa alguns livros que foram dela e que “herdei” da minha mãe, aliás além dos livros, herdei da mamãe a simpatia pelo espiritismo, sentimento que me acompanha desde sempre. Já li alguns deles, mas nunca senti-me como uma espírita completa, parece que falta algo...

Respeito as opções das pessoas em seguirem suas religiões, mas o exagero me incomoda, pessoas beatas demais ou aqueles “crentes do rabo quente”. Aliás, tenho pavor da religião católica e da lavagem cerebral que a igreja evangélica faz em seus discípulos, não sei como as pessoas podem se aproveitar da fraqueza das outras e tirarem vantagens altamente psicológicas e, pior, financeiras delas. Conheço pessoas que deixam faltar em casa para doar o tal do “dízimo” e, enquanto isso, os pastores estão por aí circulando em carros importados e comprando mansões mundo afora. Quanto ao catolicismo, o que me incomoda, além das monstruosidades e roubos cometidos ao longo da história, é a coisa dos dogmas, de não evoluir com a humanidade, de não perceber que seus fiéis precisam de uma verdade mais flexível e real.

Durante alguns anos após a morte da minha mãe, briguei com Deus, queria culpar alguém pela morte dela, e a minha imaturidade achou mais fácil transferir a minha raiva para ele. Achava bonito dizer às pessoas que não acreditava que pudesse existir um Deus que tirasse a vida de uma mulher tão boa e deixasse por aí vivendo tanta gente ruim. Claro, isso passou com o tempo e eu fiz “as pazes” com Deus, confesso que senti um certo alívio quando isso aconteceu. Com a morte dela ainda recente, lembro-me de tentar um “contato imediato” em algumas sessões espíritas, íamos eu e Karine, numa busca de respostas e de alívio à dor da perda de nossas mães ( acreditávamos que receberíamos um carta psicografada, ou algo assim ), claro que nem chegamos perto disso, mas, pelo menos, ainda tínhamos ( e temos ) uma a outra. A vivência da perda fica mais fácil quando temos alguém que nos importa e que está passando pela mesma coisa.

Semana passada soube do lançamento de um filme sobre a história de Chico Xavier, já sabia que já estava sendo filmado, mas não tinha ideia da estreia. Vi algumas entrevistas com o ator Nelson Xavier ( o qual tenho muita admiração pelo trabalho ) e me emocionei pela maneira com a qual ele descreveu o trabalho e a honra de viver Chico nos cinemas, além da forte emoção que o tomou desde que ele conheceu a vida do grande médium. A estreia nacional será em 2 de abril ( veja o site oficial do filme aqui), data em que ele completaria 100 anos, e eu estou verdadeiramente ansiosa por assistir. O filme é baseado no livro do jornalista Marcel Souto: “As vidas de Chico Xavier”, e ele ficou muito satisfeito com o resultado.




Apesar de ainda ficar meio perdida nas minhas crenças, espero me esforçar mais pela busca da minha espiritualidade e aliar isso ao que realmente acredito que seja um diferencial na formação de um mundo melhor: a família. Essa sim, sem demagogia, é capaz de fazer seres humanos melhores, que façam algo pelo próximo e cultivem a tolerância e o amor.

quarta-feira, 17 de março de 2010

A estreia de Ana

Eta, que a minha estreia neste ano quase se prorroga para abril, socorro! Não foi por falta de querer escrever nem muito menos por falta de assunto... sei lá, o ano já começou tão corrido e cheio de trabalho que, para variar, andei deixando meus prazeres de lado – não pode- inclusive, essa é uma das minhas metas para 2010.

Então, antes tarde do que mais tarde, procurarei fazer um megarresumo ( isso é esquisito assim mesmo com a reforma ortográfica, ui! ) de tudo que quis escrever e até hoje não postei por aqui, ok?

2010 começou muito bem, comigo em janeiro de férias, viajei bastante com o meu amor, conheci um pouco do sul do país e, finalmente, andei de avião pela primeira vez! Foi tudo bom demais da conta! Fiz algumas metas para o ano-novo e, até agora, estou conseguindo cumprir parte delas, tipo: emagrecer os quilos que ganhei nas férias, alimentar-me melhor, colocar aparelho, etc... falta ainda tirar a minha carteira, fazer alguma atividade física e muitassssssss outras que espero realizar ao longo de 2010.

Pois bem, quero este ano, viver mais, ler mais, ver mais filmes, fazer mais coisas que gosto; quero ter forças para estudar, aprimorar-me, tornar-me melhor naquilo que faço. Quero mais projetos de trabalho, mais desafios, mais realizações. Quero ter mais tempo para estar com meu amor e que conquistemos cada vez mais os nossos sonhos. Quero estar mais presente na vida da minha família e das minhas amigas queridas e compartilhar momentos que sei sempre serão inesquecíveis. Quero, enfim, conseguir conciliar isso tudo num dia a dia feliz e que quando não seja possível, não me falte bom humor!

Bom... é isso, prometo a partir de agora ser mais presente, postar com mais frequência e tentar escrever alguma coisa que preste por aqui. Sei lá, a cada dia que passa, e isso é bom, escrevo com mais franqueza, sinceridade ... é bom ler minhas coisas e me reconhecer nelas...assim como faço com vocês no nosso blog: adoro começar a ler um post e adivinhar pelo estilo da escrita quem é a autora do texto, e olha, quase sempre acerto. Sem mais delongas quero dizer que estou feliz em finalmente estreiar por aqui e espero tirar o atraso em breve.

Beijo grande em todos.

Ana

quinta-feira, 11 de março de 2010

Hiato

O que minha alma sente?
O que o sentimento ressente?
Quando não há mais voz
E o silêncio grita e o coração escuta?

Não há espaço para lamento
Há uma dor que lateja, que transcende e sufoca
Mas não há espaço para lamento

Não há espaço para o passado
E não há como passar o presente e pular o futuro
Há um hiato, um soluço
Tudo que cabe nesse espaço

E dentro da minha alma recente
Há um coração que sente
É a vida que segue no sempre
E sempre ausente

terça-feira, 9 de março de 2010

"E se..."



Tivesse sido diferente



Quem leu o perturbardor Precisamos Falar Sobre Kevin, sabe que sua autora, Lionel Shriver, é craque em esmiuçar as razões psicológicas que motivam todos os nossos atos, mesmo os mais tolos, e em demonstrar o quanto esses atos geram consequências previsíveis e imprevisíveis. Em seu novo livro, O Mundo Pós-Aniversário, ela conta a história de Irina, uma mulher instalada num sólido casamento de 10 anos, que um dia sente um incontrolável desejo de beijar outro homem. Pra complicar, esse homem é um amigo do casal. A partir daí, a autora desmembra o livro em duas histórias que correm paralelas: a vida de Irina caso consumasse seu impulso erótico, e a vida de Irina caso reprimisse seu desejo.

A autora poderia ter se contentado em escrever sobre o poder transformador de um primeiro beijo em alguém, mas foi mais inteligente e abordou também o poder transformador de mantermos tudo como está. É comum pensarmos que, ao ficarmos parados no mesmo lugar, sem agir, sem mudar nada, estamos assegurando um destino tranquilo. Engessados na mesma situação, é como se estivéssemos protegidos de qualquer possível ebulição que nos inquiete. Sssshh. Quietos. Ninguém se mexe pra não acordar o demônio.

Não deixa de ser uma estratégia, mas falta combinar com o resto da população. As pessoas que nos cercam sempre interferirão no nosso destino. Se dermos uma guinada brusca ou permanecermos na rotina, tanto faz: o mundo se encarregará de trocar as peças de lugar nesse imenso tabuleiro chamado dia-a-dia.

Ao fazer algo socialmente condenável (como ser casada e dar um beijo em outro homem, pra dar o exemplo do livro), tudo poderá acontecer - inclusive nada. Você poderá se apaixonar, abandonar seu marido e viver uma tórrida história de amor, e essa história de amor se revelar uma furada e você se arrepender, e tentar reatar com seu marido que a essa altura já estará apaixonado pela vizinha. Ou você beijará e em vez de iniciar um romance tórrido, voltará pra casa bocejando e nada, nadinha será alterado. Foi só uma pequena estupidez momentânea e sem consequências. Mas das consequências de continuar viva você não escapa.

Esse 2010 promete ser bom: ano do tigre no horóscopo chinês, ano de Vênus no horóscopo ocidental. Quem entende do assunto, diz que teremos um aquecimento global do tipo que ninguém tem nada contra. Emoções calientes. Mas adianta fazer planos? Seja qual for o caminho que optarmos seguir, haverá altos e baixos. E isso é tudo. Se fizermos uma auditoria em nossas vidas, em algum momento questionaremos: “e se eu tivesse feito diferente?”. O diferente teria sido melhor e teria sido pior. Então o jeito é curtir nossas escolhas e abandoná-las quando for preciso, mexer e remexer na nossa trajetória, alegrar-se e sofrer, acreditar e descrer, que lá adiante tudo se justificará, tudo dará certo. Algumas vidas até podem ser tristes, outras são desperdiçadas, mas, num sentido mais absoluto, não existe vida errada.

Martha Medeiros

Publicado na Revista O Globo
Em 28 de fevereiro de 2010