quinta-feira, 20 de maio de 2010

Eu não te avisei

Na plataforma, o casal chega apressado ao guichê, o embarque já encerrado. Aturdida, ela faz perguntas, cogita hipóteses, parece sentir-se culpada pelo atraso. Em vão: o trem já partira. Desapontada, ela o olha com olhos piedosos. Implacável, ele condena: Eu bem que avisei!

Perdi a conta, nessa minha vida, da infância à maturidade, das vezes em que também fui atingida por um “Eu bem que avisei!”. Cale-se, escute e ainda corra o risco de ser considerado o arrogante, que não deu ouvidos aos avisos, o desobediente.

Não vou dizer que não me irrita essa inapelável sentença. Você não precisa me enxergar para me julgar, mas precisa me enxergar para me entender.

Para esses, eu estou bem aqui na frente, mas insistem em não me ver. Tudo bem, cada um enxerga o que quer. O problema é quando sem ter ideia de como sou, o que faço, onde estou, resolvem dar a visão deles sobre mim. Embora isso não faça sentido, porque não me enxergam, certo?

Explicando melhor: preferiria que me esquecessem, mas até para poder esquecer teriam que me enxergar. Entenda, por favor, que não é o meu desejo, mas se você que me lê vier a errar, falhar ou fracassar – possibilidade muito remota, bem sei – não, eu não te avisei.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Presente de aniversário

Bom...passada a tempestade que fez parte do meu inferno astral, respiro aliviada. Como disse a minha tia “essa era de Aquário não está sendo fácil”. Bem antes do meu sempre presente período nostálgico e melancólico pré-aniversário, veio a história da Bárbara, por quem tenho um amor de mãe, pois vi nascer, vi o primeiro sorriso, a primeira febre, os primeiros passos... Bárbara hoje está com 18 anos, o que significa que quando ela nasceu eu tinha 14 e a mãe dela ( minha prima ) 15. Dá para imaginar a revolução que foi isso em nossa família? E no hipócrita colégio de freira em que estudávamos? Minha prima Carolina é a mulher mais corajosa que conheço, enfrentou o mundo aos 15 anos por sua Bárbara. Não é a toa que deu esse nome à sua menininha: um nome forte, de guerreira. E, nestes últimos dias, essa menininha mostrou a força bárbara que traz em suas veias, e fez uma verdadeira guerra para continuar viva. Explico melhor: há cerca de 20 dias, minha prima levou sua filha ao Hospital Biocor com forte dor de cabeça e vômito, eles a internaram e fizeram vários exames para tentar descobrir a causa dos sintomas. Sugeriram dengue, virose, rota-vírus, e, mesmo contra as justificativas de minha prima, sugeriram até que ela levasse sua filha para se recuperar em casa. Porém, Bárbara não melhorava, os sintomas pioravam, a febre não cedia, apareceu uma taquicardia... resolveram levar o quadro da menina a sério e fizeram ultrassons: descobriram que ela estava com uma alteração estranha no fígado. Não era de se assustar? Mais piora, e aí 2 dias depois resolveram fazer um exame muito “sofisticado”, que acredito qualquer leigo no assunto já teria feito: um exame de urina – bingo!- a menina estava com uma infecção urinária. Como não foi detectada no prazo certo, essa infecção bacteriana tomou uma dimensão enorme. E então resolveram fazer um teste de sangue chamado PCR, o qual detecta uma proteína responsável por infecções e que, o máximo permitido para um ser humano tolerá-la seria 6, o teste de Bárbara acusou 360!! Correria: levaram a menina para o CTI com os 2 pulmões infiltrados e a bactéria espalhando-se pelo seu organismo por meio dos rins. O estado dela era gravíssimo, finalmente o Biocor colocou à disposição dela médicos competentes, entre eles o dr. Ivan, um médico excepcional que acompanhou Bárbara até que ela se recuperasse. Foram 4 dias no CTI e mais 9 (contando com a entrada dela no hospital) internada para que ela recebesse alta. No meio disso tudo, o sistema de saúde brasileiro mostrou sua falência, mesmo com plano de saúde particular, não havia apartamento disponível e minha prima teve que rodar a baiana para que depois do CTI ela fosse para um quarto, queriam deixar ela lá por mais tempo sem necessidade. Já não havia sido traumático demais? Nós, familiares, perdemos o sono, a tranqüilidade e só respiramos aliviados no dia em que ela recebeu alta. Minha prima quase surtou de tanto desespero. Eu, de longe, não queria acreditar que aquilo estava acontecendo. Bárbara é nossa 3ª geração, sempre foi para mim, símbolo do sonho de ser mãe e meu primeiro amor. Tenho por ela um amor sem tamanho, sempre brincava dizendo a ela que “odiava ser apenas sua prima de 2º grau”. Ela sabe que para mim ela é muito mais que isso. Hoje, fica o susto e a dor do que passamos, mas fica também o orgulho por uma menina que lutou contra uma poderosa bactéria, que pouco antes havia matado uma jovem nesse mesmo hospital. Tenho que corrigir o que disse antes: a mãe dela não é a mulher mais corajosa que conheço, ela e sua filha são as mulheres mais corajosas que conheço.

E, assim, o meu maior presente de aniversário foi vê-la sentada e sorrindo, brindando os meus 32 anos!

Até a próxima!