quinta-feira, 20 de maio de 2010

Eu não te avisei

Na plataforma, o casal chega apressado ao guichê, o embarque já encerrado. Aturdida, ela faz perguntas, cogita hipóteses, parece sentir-se culpada pelo atraso. Em vão: o trem já partira. Desapontada, ela o olha com olhos piedosos. Implacável, ele condena: Eu bem que avisei!

Perdi a conta, nessa minha vida, da infância à maturidade, das vezes em que também fui atingida por um “Eu bem que avisei!”. Cale-se, escute e ainda corra o risco de ser considerado o arrogante, que não deu ouvidos aos avisos, o desobediente.

Não vou dizer que não me irrita essa inapelável sentença. Você não precisa me enxergar para me julgar, mas precisa me enxergar para me entender.

Para esses, eu estou bem aqui na frente, mas insistem em não me ver. Tudo bem, cada um enxerga o que quer. O problema é quando sem ter ideia de como sou, o que faço, onde estou, resolvem dar a visão deles sobre mim. Embora isso não faça sentido, porque não me enxergam, certo?

Explicando melhor: preferiria que me esquecessem, mas até para poder esquecer teriam que me enxergar. Entenda, por favor, que não é o meu desejo, mas se você que me lê vier a errar, falhar ou fracassar – possibilidade muito remota, bem sei – não, eu não te avisei.

2 comentários:

  1. É minha primeira vez no seu blog, e pelo post que li (este), gostei muito. Detesto esta história de "eu bem que avisei". Eu tb tenho uma história destas para contar, só que é muito longa para caber aqui.
    Bjkas e boa noite.

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