quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

"Não é hora de perder a esperança"


Recordo os tempos dos 10 ou 12 anos, mais ou menos, fase de transição entre a ainda menina e o projeto de mulher. Minha tia me levou a uma das visitas da Pastoral da Criança, num bairro pobre de Belo Horizonte. Lá eu vi pela primeira vez a dona Zilda Arns. Uma senhorinha de pequenos olhos claros, sorriso sempre aberto, rosto germânico e gestos comedidos.

Era um dia festa, por causa da visita dela. Fiquei admirada com aquela mulher que tinha vindo de longe explicar a algumas mães como cuidar melhor de seus filhos. Só mais tarde pude entender a vastidão daquele gesto. Ali eu conheci algumas crianças que só conseguiram se manter neste mundo graças ao trabalho dos voluntários da Pastoral, criada por Zilda.

Ali também minha tia me ensinou: quando estiver diante de gente que abraçou o ser humano e tem em sua mais profunda essência o espírito público, certifique-se de que é verdadeira essa sua impressão, bata palmas e siga esse cidadão.

Desde então, eu passei a acompanhar a trajetória dessa grande mulher que salvou milhares de vidas com cuidados básicos da saúde. Mais de 15 anos depois, pude olhar para aqueles olhos novamente em uma vista que ela fez à pastoral de Ji-Paraná.

Em todo esse tempo, enquanto estávamos distraídos, estudando e trabalhando, e nem notávamos as mudanças em nossa paisagem, Zilda Arns metia a mão na massa para reduzir sofrimento humano. Enquanto nos mantínhamos atentos ao processo de nosso crescimento pessoal, às questões da família e dos amigos, e nem notávamos que lá fora a coisa estava ficando complicada, ela agia. Zilda não suportou ver as crianças brasileiras asfixiadas: sem ar, sem água, sem pão, sem amor, sem alegria. Será ousadia cuidar das pequenas coisas que fazem a vida das pessoas? Será temerário ter o ser humano como objetivo principal de qualquer atitude?

O trabalho de Zilda Arns provava que uma parcela importante, significativa, da humanidade, não tinha perdido as esperanças. E como disse dom Evaristo hoje, sobre a morte da irmã no Haiti:"Não é hora de perder a esperança".

2 comentários:

  1. "Vai o homem e fica o exemplo". A Zilda deixou um legado de amor ao próximo. O dom supremo. Perder a esperança? Jamais!

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  2. No blog do Luiz Nassif:
    http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/01/13/trivial-de-zilda-arns/
    Uma honra!

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