quinta-feira, 8 de julho de 2010

10 anos

Izabella,
que a fé more sempre em seu coração,
a justiça guie o seu espírito,
a bondade seja sempre o perfume de sua alma
e o perdão seja sempre a flor mais bela de seus pensamentos.
Magda
*Escrito no meu diário de Hello Kitty, em 10/12/1991, numa página qualquer para que fosse achado a qualquer momento.


Eu não conheci minha avó. Ela se foi antes mesmo de se tornar uma. Foi precocemente no inverno de 1968.

Minha mãe também partiu em um inverno, no dia de 10 de julho de 2000, carregando o mesmo legado de sua mãe. Mas antes mesmo de ser avó, faltou-lhe o tempo de continuar a ser mãe. Minha mãe.

Quando pequena, eu era como qualquer criança: dependente de todo o cuidado materno. Aos poucos, dando os primeiros passos, as primeiras quedas fui ganhando independência e, ao mesmo tempo, personalidade. Mas ela estava lá, assistindo todo o meu caminho.

Na adolescência, como todo "quase adulto", achei que esse negócio de ser mãe era chatice pura e por diversas vezes entortei o nariz para seus conselhos. Mas ela estava lá, insistindo em seus avisos e me esperando de braços abertos para caminharmos juntas.

E foi exatamente no intervalo entre a adolescência e a vida adulta que ela se foi. Eu tinha 18 anos. Exatamente na época em que se descobre que a adolescência não é eterna e que começam a surgir os desafios da vida. Foi exatamente aí que eu procurei a sua mão, o seu olhar dizendo "coragem" e não os encontrei.

Eu me lembro de uma mãe de postura firme, que me ensinava a seguir em frente, a lutar e ter fé. Eu me lembo de uma mãe zelosa e amável que me ensinou princípios e virtudes para levar comigo. Mas naquele dia, nenhuma lembrança se fez maior que o tamanho de sua ausência.

Ausência que tem cheiro, que tem voz. Ausência que caminha ao meu lado há 10 anos. Às vezes em ritmo acelerado, forçando-me a tomar fôlego ou a parar um pouco, exaurida de saudade.

Engana-se quem pensa que o tempo faz esquecer as pessoas. Ao contrário, o tempo tratou de guardar minha mãe em mim. Ela nasce em mim todos os dias e eu sou ela sempre. E sempre busco um pouco dela nas pessoas e nas coisas que me cercam e dou um pouco dela para as coisas e as pessoas que me cercam.

E assim, sob olhar eterno, minha mãe continua a assistir meu caminho e a caminhar comigo.

Eu não carrego o legado de não ser avó. Isso foi um mero acaso. Não estou fadada a este destino. O meu legado é continuar a viver esse amor. É procriar esse sentimento e mostrar para todos e para mim mesma que, mesmo desfrutando tão pouco da dádiva de ser mãe, ela foi a melhor do mundo.

8 comentários:

  1. Isa, querida. Minha doce amiga, senti cada palavra sua, e o seu texto lindo me fez chorar. Você traduziu tão bem a minha dor que cada vez mais entendo o porque de sermos tão parecidas e termos uma história dolorosa em comum.Sabia que além das muitas coincidências também perdi minha mãe aos 18? Minha querida, saiba que o legado maior da sua mãe é essa mulher linda, corajosa e batalhadora que você é e que dá forças a minha caminhada. Um beijo grande e emocionado da amiga que muitíssimo lhe quer bem.

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  2. Iza, tenho certeza que você carrega todos os conselhos escritos por ela no diário. Além do texto lindo, fico muito feliz em ter sido responsável por apresentar você e Ana, duas amigas tão queridas e guerreiras.

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  3. Oi Izabella,
    Chorei e ainda estou chorando ao escrever isto aqui. Perdi minha mãe no dia 18-04 e ela está fazendo falta, mas mais do que isto o que me tocou profundamente em seu texto foi o meu medo de não estar presente e não poder ser mãe, avó e ver a minha continuidade nos meus. Tive cancer de mama no ano passado e este medo de não estar presente na vida daqueles que precisam de mim bateu muito forte. Não vou escrever mais pq senão não paro de chorar e eu fiz um blog para ser feliz, não para chorar.
    Adorei o seu blog e estou seguindo vc. Vou ficar muito feliz se vc tb me seguir.
    Bjkas e uma ótima semana para vc.

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  4. Ai meninas,
    Admiro tanto vocês com essa coragem toda de enfrentar obstáculos que parecem intransponíveis!
    Beijos

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  5. Minhas lindas, meu beijo!

    Betty, querida. Fico muito feliz de ter você aqui conosco. Sei exatamente o tamanho de sua dor. Mesmo não podendo mensurar qualquer perda, acho fundamental a gente mirar nos exemplos que nos cercam. Demorei muito para entender que não carregava legado algum das coisas tristes e dos problemas da vida. Isso acontece sem precisar de DNA, herança ou coisa parecida. Eu estou me curando devagar. Às vezes tenho recaídas e quedas fortes, mas aí amanhece e vem um dia para ser vivido de cada vez.
    Venha sempre nos visitar! Aqui tem choro mas muito riso também. Reflexões, receitas e até consultas de tarô. Um beijo!

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  6. Que bom que a saudade continua...em algum momento ela virá sem dor, somente com as lembranças boas que você carrega...
    Bjs
    Cae

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  7. Iza, como já sorri muito por aqui, chegou minha vez de chorar com este blog.
    Sei o que é perder um pai, mas uma mãe ainda não consigo processar, ainda mais agora que, que se isso acontecer enquanto eu estiver aqui a 2.100 km de distância como vou superar isso? Que tipo de amor é este entre homem e mulher que nos absorve tão intensamente a ponto de nos separar fisicamente dos nossos entes mais amados? Como explicá-lo? Se eu vier a perdê-la estando distante, esse amor suprirá tudo o que não estou vivendo com ela?
    Não é fácil compreender o que Deus diz em sua palavra: "Deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne". Mas é certo fazer! Com toda certeza, isso será o meu consolo. Esse comentário de hoje, foi mais um desabafo para demonstrar a falta que minha mãe faz em minha vida, mesmo que Deus ainda não a tenha levado. Hoje eu sei o que é sentir-se só entre tantas pessoas... escrevendo agora acabei de experimentar o "nó na garganta", parei, tomei água, mas ele não desmanchou está bem aqui, e provavelmente minha mãe saberia o que fazer para desmanchá-lo. Te amo amiga!!! Beijos

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