sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Meu melhor presente


Eu não a idealizava totalmente porque sempre tive os pés no chão quanto a grandes expectativas. Por causa disso me permitia modelar em minha cabeça uma imagem sua apenas rascunhada, aberta aos caprichos do destino. Só existia um ensaio mental de sua figura. Podia ser um pouco assim. Um pouco assado. A genética fala alto, mas o ambiente também. E se for chata? Se não gostar de mim? E lá veio ela, aquele bolinho de gente, com três espessos tufos de cabelos na cabecinha, uma pinta no braço direito e um olhar... ah, um olhar...

Ela veio por muita insistência minha. Demorou dez anos. Podia ter demorado menos, mas se viesse mais rápido, não seria ela. O nome era outro até quase ela chegar. Mudou e não poderia mesmo ser outro. Uniu a força bíblica da “mulher que ocupa o primeiro lugar” ao enigmático hebraico daquilo que é “cheio de graça”.

De mãos dadas e olhos cuidadosos, eu ajudei a dar os primeiros passinhos. Também fui responsável pelo primeiro tombo de verdade, quando ela escorregou no banheiro e bateu a cabeça no degrau. Quase tive um troço. Depois do susto, apelidamos o machucado de tomate, e assim, o episódio ficou mais divertido. A primeira vez que ensaiou as braçadas na piscina também. Quase afogou, tadinha, mas se saiu bem. E, na bicicleta, quem soltou a mão, para que ela seguisse sozinha, fui eu.

Aprendi a dar banho, a lavar os longos cachos, sem deixar um fio cair na mão pequena, porque ela tinha muito medo do próprio cabelo, vai entender... Tinha medo também da fantasia de palhaço do primeiro aninho de vida. E do homem que passava de caminhão vendendo batata. Ele era inclusive a saída de quem ainda não tinha nenhuma psicologia infantil. “Não faz isso, senão o homem da batata vem pegar você”. Ela obedecia.

Aprendi a lavar e a passar as fraudas, que ainda eram de pano. Com todo cuidado do mundo, fazia todas as dobras que minha mãe dizia necessárias fazer. Contava histórias e ensinava as letras de todas as músicas, que, com aquela idade, eu achava importante saber. Buscar na escola e ensinar as tarefas me fazia sentir muito mais responsável, do que eu era na verdade.

Ter uma irmã, pelo menos no meu caso, significou muito companheirismo e noções práticas de solidariedade, justiça e espírito coletivo. Dividindo aprendi a somar. Pelo afeto daquela menininha que eu ajudei a gerar, eu ganhei um novo mundo. Inteirinho e só pra mim. E isso me alegra demais, todos os dias. Nada supera a satisfação de saber que nossos frutos são árvores, prontas para enriquecer a humanidade com sua maneira encantadora de ser.

Minha irmã é a filha que eu ainda não tive, a amiga que eu vou ter para sempre e a certeza que só veio coisa boa nessa entrega especial da natureza. Desculpem, é piegas, eu sei, mas minha parca habilidade literária me impede de achar termo menos clichê para dizer exatamente isso. Por isso repito e aqui está escrito: muito obrigada!

6 comentários:

  1. ô Juba, que delícia de declaração! Nada de piegas. Amor, felicidade, delicadeza nunca cairão de moda.
    beijos

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  2. Ei Ju, que lindoooo, a mari tava toda boba com o post la em casa no sábado rs. bjoo

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  3. Coisa mais linda desse mundo! Bjsss

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  4. Q delicia de post!!! AAh eu queruu uma irmã mais velha tbm... hehehe

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  5. Ei Jú, que bacana este blog. Lembro da Mariana pequenininha de caixinhos dourados.... abraço fraterno. lili

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  6. Oi Lili! Que bom ver você aqui! Fico muito feliz e lisonjeada que tenha gostado. Saudades!

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