terça-feira, 25 de agosto de 2009

Estranha terapia




Depois da morte da minha mãe ( isso faz 13 anos ) fiz muitas coisas para tentar ficar parecida com ela. Algumas inteligentes, outras nem tanto... Cheguei a copiar o seu vício pelo cigarro para viver o que ela sentia diariamente em suas tragadas. O cigarro virou meu companheiro de luto, era eu sentir solidão e lá estava ele irradiando aquela nicotina em minhas entranhas como se fosse um remédio para qualquer dor. Me lembro de gostar de sentar em uma mesa de bar e acendê-lo, para mim era como reviver algo que vi muitas vezes a minha mãe fazer. Me lembro também da primeira vez que apareci em família fumando um cigarro, e da cara de não-espanto dos meus irmãos, afinal já tinha 23 anos e era dona do meu nariz ( e principalmente do dinheiro que comprava aquela estupidez ). Acho que fiz aquilo pensando ser um ato de rebeldia, querendo que alguém me questionasse alguma coisa, mas me esqueci da minha postura fechada e que não aceitava pitacos, principalmente dos meus irmãos. Graças a Deus, a genética não é tudo, e esse período de fumaça durou somente cerca de 3 anos em minha vida. Hoje tenho pavor de cigarro, do seu cheiro, e das péssimas lembranças que ele me traz.

Outro ritual que minha mãe tinha era o seu café. Apesar de eu não gostar de degustá-lo naquela época, uma das sensações que mais tenho saudade é de acordar sentindo o cheiro de um cafezinho novo sendo coado. Esse cheiro é a coisa que mais me aproxima fisicamente da minha mãe. Até hoje. Então, também depois de velha, passei a tomar café todos dias e, ao contrário do cigarro, esse hábito tornou-se essencial em minha rotina, não vivo sem o meu bom e forte café preto.

Demorei alguns anos para perceber que esses artifícios não me tornariam mais parecida com a minha mãe, nem muito menos amenizariam a sua falta. Mas, de alguma forma, fizeram parte de uma terapia que eu mesma inventei no doloroso processo da aceitação de sua falta ( processo que sei, durará toda a minha existência ). Hoje, em meus momentos de inquietudes e medo, continuo tentando copiá-la, pois ela era uma fonte inesgotável de coragem e força, e ao mesmo tempo um pote de mel em gestos e carinhos. Busco ser algo parecido com ela, uma mulher que driblou todas as dificuldades que a vida lhe colocou; uma mulher que não tinha medo do trabalho; e que fazia tudo por nós. Busco ser um dia para os filhos que espero ter, uma mãe como ela foi. E assim vou seguindo o meu caminho, sempre com ela no coração, um dia de cada vez.

5 comentários:

  1. Não tenho dúvida que você vai ser para o seu filho o que sua mãe foi para você. Ela pulou da vida para dentro de você e vai continuar se multiplicando por outras tantas, que se somarão às outras que o tempo e os amores farão nascer.

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  2. Anoca... que lindo! Engraçado como são as coisas. Quando a minha se foi eu pintei meu cabelo da mesma cor do dela, vesti as roupas que decidi ficar pra mim. Talvez numa tentativa de tê-la viva, da sensação de que, a qualquer momento, ela voltaria.
    E lendo o que você escreveu percebo mais ainda a beleza do legado de nossas mães: eu, você, a gentileza, a sabedoria e a fé. Um beijo!

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  3. Lindas palavras, Julieta. Obrigada. Bjs

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  4. Nossa, Iza, como nossas "insanidades" são parecidas...rsrs, fico feliz em compartilhar com você um pouquinho delas de cada vez! Sim, somos um belo legado ( e incluo a Karine nisso )de mulheres maravilhosas. Obrigada pelas belas palavras. Bjsss.

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  5. Anoca, tem que colocar sua fotinha ali do lado, para expor sua belexza! rs...

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